sexta-feira, 20 de junho de 2014

[tirando o mofo] relato de uma tragicomédia culinária

Depois de ver muitos desastres culinários num grupo de confeitaria do Facebook, alguns inacreditáveis, fiquei, ironicamente, com vontade incontrolável de um bolinho, quentinho, com café... aiai ^^ 
Fomos pra cozinha - eu e o namorido - cheios de disposição, idéias e expectativas, e decidimos confeccionar um delicioso bolo de maracujá com damascos. 

Tudo ia bem: peneira os secos aqui, bate a clara em neve ali, pica as frutinhas cá, junta líquidos acolá, lalarirará, a casa inebriada pelo cheiro do suco de maracujá, e tudo finalmente misturado em uma massa linda, volumosa, leve, de dar gosto, mesmo crua. A empolgação era tamanha que reforcei a receita, enchendo a bacia até a boca. 

Mistura feita, forno pré-aquecido na espera, era só ir de uma ponta da mesa à outra, onde estava a forma devidamente untada, pra despejar a maravilhosa massa. Só, eu disse?

Só não contava era com o encontro da bacia com o encosto da cadeira, que de repente ficou alto demais, como um verdadeiro poste no meio do caminho. Foi como se cortasse o tempo e virasse de ponta cabeça, entre aqueles milissegundos da promessa de um lindo bolo à tragédia esparramada pela perna inteirinha, do short aos dedos do pé. Não fosse o desperdício suficiente - algúem aí já teve a coxa literalmente coberta por massa de bolo? - jazia no piso claro da cozinha um bolotão de massa esparramada... Que tristeza. Foi tão inesperado, rápido e bizarro que nem raiva senti. Eu nem consegui xingar, e olha que até pensei, mas acho que a vontade foi junto com a massa. Puro espanto. Era pra ser um bolão, mas voou pelos ares! ~.~

Felizmente, nem tudo estava perdido. Ainda havia massa na bacia, sacudida, é verdade, mas o suficiente pra fazer um bolo de proporções "normais". Deixei o processo em stand by, enquanto o namorido, também pasmo e frustrado, limpava a bagunça. Fui mancando pro banheiro pra me limpar, tentando não melecar a casa toda. Limpei o excesso e voltei pra terminar. Nem tinha me recuperado do susto ainda quando peguei a forma, coloquei a massa restante e parti logo pra pôr no forno, antes que mais desastres acontecessem...Partiu, eu disse?

Sim, claro. Mas não sem bater naquele encosto "gigante" da cadeira, pela segunda vez (acredite se puder) e sentir o que sobrara do meu objetivo estremecer. Os milissegundos duraram segundos, e segundos o suficiente pra sentir tudo de novo. Dessa vez a pancada foi mais leve, mas fez crescer o espanto com a minha patetice...que vexame! Não dava pra acreditar, haha... 
O forno, que já tinha estranhamente teimado em acender, diga-se de passagem, esperava, quentinho. Antes de fugir pro banheiro pra tomar um banho de verdade, pus o bendito bolo no forno, finalmente. Chega de azar. 

Azar? Chega? Quando?

Tomei meu banho, deixando um toque de fragrância de ovo pelo banheiro (o maracujá que é bom, "nem tchuns"). Ao terminar, minha intenção era sentar e costurar, mas em razão dos fatos recentes e também por hábito, fui dar uma espiadela no forno e... escuridão! Tudo apagado, nem luz no fim do túnel, nem cheiro, nadica. Lá se foi o gás... Pensa, de noite, num sábado, gás, achar onde???
O jeito foi sair quintal afora ver se tinha luz acesa, alguém acordado e disponível, e pedir um forno elétrico emprestado. A sogra tinha um forno sobrando, ufa. No vai e vem, bolo esperando dum lado, forno em passeios noturnos do outro, entramos, instalamos o benedito e pensei: agora vai! Vai, eu disse? 

Aham, vai nessa...

Não tinha como optar entre a resistência superior e inferior, e as instruções eram de que a de cima não funcionava, por isso nem me preocupei. Não havia passado muito tempo, eu estava lá "de boas", costurando, quando senti aquele cheiro de bolo pronto, passando do ponto, quase tostando. Como assim?
Fato era que as duas resistências estavam funcionando, e a toda. Ou seja, o bolo nem bem tinha começado a assar e já tava pra lá de corado, com um calombo escuro sinalizando "S.O.S., por favor, desligue isso ou chame os bombeiros!" Ai gezuis, e agora, comófas!? 

Fui catando fôrma de pizza pra pôr por cima e segurar o fogacho do gratinador, além de diminuir a potência... Dessa vez não tinha como dar outra: massa sacudida, encruada por dentro, tostada por fora. Fuefuefuê, lá se foi o nosso desejo de maracujá... Se foi, eu disse?!

Sabe naaada, inocente!

Apesar dos desastres, da lambança, da roupa suja e da perna hidratada na massa, do grau de patetice, das indagações a respeito da própria acuidade visual, do cheiro de ovo que tomou conta do banheiro, da cadeira bovina, do gás que acabou antes da hora, de sair pedindo forno num sábado à noite e da falta de intimidade com ele, da certeza de uma massa encruada, abatumada e tostada, a primeira fatia revelou um bolo lindo (ohhhh!), de massa homogênea e macia, amarelinho e cheiroso, com sabor intenso de maracujá! Ele sobreviveu! \o/

Moral da história? Várias...

- não veja tragédias culinárias antes de cozinhar, (especificamente se você acredita em "bad vibe", "olho gordo" - ainda que seja o seu, mentalização, "ziquezira", "energia"... evite mesmo. Não é minha praia, mas tem muita gente que leva a sério e por esses meios explicaria facilmente as situações ocorridas, especialmente se você riu da tragédia alheia, haha);
- se possível, evite ter por perto cadeiras com encosto muito alto ou outras possíveis armadilhas, como tapetes por exemplo (volta e meia eu passo distraída e meus pés tratam de carregar eles junto comigo, não sei o que acontece). Por mais que você esteja acostumada, tudo se transforma quando se está tendo aquele momento ou dia de pateta. Se for naturalmente desastrada, se tiver problemas de visão, ou se apenas estiver muito ansiosa por um bolo, não faz mal ser mais precavida.
- cuidado com o gás, sempre, e se usar botijão, verifique se tem o suficiente antes de começar qualquer coisa (tcharan!) ou então se assegure de ter uma solução alternativa;
... e por aí vai. 

Ainda assim, apesar dos pesares, com tudo dando tão errado, o resultado pode ser surpreendentemente gostoso e render boas risadas...Não desista! ;-)

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