domingo, 20 de julho de 2014

Era uma vez [n]o mundo craft...

Lá em meados de 2005/2006, quando comecei a me engraçar pelo mundo do artesanato, das costuras e dos bordados, o material ainda era escasso na internet, em termos de tutoriais e passo a passos. Lembro que pra coisas relativamente simples, como técnicas de bordado, ainda era mais fácil se inscrever em cursos na própria cidade, nem sempre lá muito acessíveis. Doutra forma, restava comprar livros importados e caríssimos ou, no máximo, algumas poucas apostilas disponíveis online. Em tempos de internet ainda discada, não havia muito material em alta resolução. Ainda assim, já era possível garimpar material pelos sites e blogs afora, com alguma dica aqui e outra ali, enquanto que outros guardavam os segredos a 7 chaves. Lembro de ficar olhando aquelas fotos e matutando sobre qual era a lógica e tentando descobrir os pulos de gato...era um desafio! Não demorou muito e a situação mudou, drástica e rapidamente. Muito graças aos sites russos, que trouxeram uma avalanche de e-books, tutoriais e revistas, jorrando "luz" nesse mundo de mistérios, enquanto milhares de blogs e canais do youtube acompanharam a tendência e, aos poucos, foram se especializando nos passo a passos, compartilhando dicas supimpas que deixavam a gente com cara de "como não pensei nisso?". Uma onda de novidades sobre técnicas, estéticas, tendências e modices invadiu a nossa praia. O único precedente, creio eu e fiquem à vontade pra me corrigir, talvez fossem os poucos e segmentados festivais e ateliês especializados em Patchwork que já haviam no Brasil. Mas o artesanato, de um modo mais amplo e pra quem não tinha saído do país nem dinheiro sobrando, jamais seria o mesmo. Logo se converteria em "mundo craft" pelas bandas de cá (eu mesma "caí" nessa e batizei minha linha de produtos de LindyCrafts...é, haha). Nem mesmo as barreiras linguísticas das instruções em japonês, o familiar inglês ou o totalmente estranho russo puderam conter esse tsunami de novas tendências.
Ainda bem no início, as referências que tiveram maior impacto na minha forma de ver e fazer artesanato, especialmente a costura e a confecção de acessórios, foram as revistas de patchwork japonesas. Se nas propostas mais simples elas já eram de deixar qualquer um boquiaberto pela delicadeza e bom gosto, eram arrasadoras nos projetos mais complexos - com pouquíssimo uso de máquina de costura, vale salientar, o que tornava tudo ainda mais surpreendente. Paralelamente, outra referência que ganhava apaixonadas à primeira vista foi a hoje mais que difundida boneca "Tilda". Eu poderia publicar uma foto qualquer aqui, mas como fico em dúvida sobre qual escolher, recomendo "googlear" ou visitar o site e explorar à vontade: www.tildasworld.com). O universo das bonecas carismáticas, de pernas e braços longos, cabelinho peculiar, rosto e linhas simples, porém de absurda elegância, impressionou uma legião de "crafteiras" mundo afora. O conceito de boneca de pano também não seria mais o mesmo e, convenhamos, é difícil não cair de amores! 
Foi e ainda é notável como a nossa forma de fazer artesanato e mesmo a nossa forma de decorar, combinar tecidos, em boa parte, mudou e se moldou drasticamente com o descortinar desses novos universos. Por um lado, uma mescla positiva e, logicamente, rica. Por outro, o inverso. Olhando por alto, a impressão que tenho é de que as "criações" ficaram, de modo geral, muito parecidas, meio pasteurizadas, com mais e mais do mesmo. Mas talvez seja apenas a globalização chegando ao mundo do artesanato, rsrs.
Entre os ensinamentos mais marcantes, vindo tanto por parte das habilidosas japonesas - que parecem poder escolher qualquer coisa e recriar das formas mais lindas e inimagináveis - quanto da Tone Finnanger, criadora do universo Tilda, foi o de buscar refinamento, uma espécie de perfeição e riqueza mesmo na maior das simplicidades, sem deixar de se levar pela imaginação. Parece óbvio, parece fácil... mas é mesmo? 
No caso da Tone (e suas Tildas, que já venderam mais de 1 milhão de exemplares), ela soube explorar as formas, as cores, estampas e técnicas de forma tão especial e imaginativa que eu, por muito tempo e estranhamente, sequer quis me meter a confeccionar ou recriar qualquer uma de suas doces criaturas (vale lembrar, elas vão muito além da boneca compridona, passando pela releitura mimosa de animais, insetos e por damas rechonchudas que vão à praia, sem vergonha alguma de mostrar suas curvas ^^). Me contentei esse tempo todo em admirar, apenas... Mesmo com os e-books, tinha uma profunda vontade de por as mãos em um exemplar que fosse, pra poder encher os olhos a cada folheada. Há alguns meses, acabei dando de cara com esse exemplar aí embaixo. Enfim, criei vergonha e levei pra casa. Mesmo assim, acreditem, fiquei só no olho, rsrsrs. 

Essa semana rolou um curso ao vivo no site da EduK - outra recente e ótima alternativa pra fazer cursos em casa, pagos ou mesmo gratuitos - com a Lu Gastal, todinho sobre a boneca. Acompanhei as primeiras aulas, o que serviu de empurrãozinho para, finalmente e meses depois, eu parar de resistir e me deixar levar um bocadinho pela magia da Dona Tilda, que só ficava me esgueirando da prateleira, lembrando que eu a tinha abandonado. Meu primeiro "perrengue", por assim dizer, foi tirar o molde. Sequer tenho copiadora/impressora, e não queria esperar pela próxima ida ao centro pra resolver isso. Tampouco uso papel carbono ou manteiga (embora mesmo que tivesse eu provavelmente não ousaria riscar o livro...sou chata com essas coisas, haha). O jeito foi recorrer às técnicas fundamentais e "primitivas", porém não menos divertidas: papelão (um dos calendários que peguei no supermercado, já com segundas intenções que não a de me situar nas datas e luas, haha), lápis, régua e olhômetro. 
Algumas partes não ficaram exatamente iguais, especialmente as curvas, mas não se perderam na essência, muito menos nas proporções (falando nisso, ela é enorme!!!). Em algumas, ajustei a simetria na hora do corte e pronto: habemus moldes! \o/ 
Obs.: foi bom "brincar" de desenhar de novo, coisa que eu fazia tanto quando era pequena. A gente acaba ficando tão viciado nessa de teclado e touch screen que a sensação é a de que a mão entrega a atrofia só em segurar o lápis ou a caneta, rsrs.

Aproveitando o ensejo, resolvi tirar o molde do anjinho gorducho que vem no mesmo exemplar e que, por acaso, me fez lembrar dos Teletubies. Pelo tanto de curvas e tric trics, resolvi recorrer à outra velha tática, removendo o vidro de um porta-retratos e usando ele de espelho pra guiar o traço. Uma maravilha! (alguém se lembra dos kits de desenho similares que vendiam nas escolas nos anos 80? Eu adorava aquelas traquitanas...aiai).

Organizando os moldes: eu guardo meus moldes todos numa gaveta bem estreitinha. Considero-a apropriada e suficiente, porém ela não permite grandes volumes, como o de muitos envelopes, por exemplo. Então, improvisei duas opções de fricote, práticas e sem ocupar espaço extra: 
a) Bolsinho super básico pro rosto do anjinho... 

b)pra Tildona, o bom perfurador e um belo laçarote, pra membro algum se perder nessa vida! ^^

Voilà!

Vou ficando por aqui, mas o desfecho dessa saga particular e inconclusa fica pro próximo post. Até! ;-)

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o post, Lindsay. E concordo que a facilidade de "dar um google" e se deparar com uma infinidade de imagens e tutoriais influenciou definitivamente as produções artesanais. E acho que acabamos, mesmo, por fazer um pouco de tudo e do mesmo. É um desafio no mundo craft globalizado, eu acho, encontrar um estilo para chamar de seu. Será possível com tantas imagens as quais visualizamos diariamente? Saio daqui pensando sobre isso e guardarei a ideia de furar os moldes para amarrá-los juntos. Genial! Bj. grande.